Em plena guerra, Dom Pedro IV concebe museu de artes no Porto
Vezes sem conta encontro-me com Dom Pedro – o imperador do Brasil. Aqui, ele é D. Pedro IV, que ascende ao trono português após a guerra contra o irmão Miguel (que era defensor do absolutismo, um governo baseado no poder absoluto do rei e na sociedade de ordens).
Afinal, quem não aprecia um drama familiar entrelaçado com história?
Dom Miguel persegue as ideias liberais (já vimos esse filme muitas vezes antes e depois de 1828) e força o exílio dos liberais para França e Inglaterra. De lá, dirigem-se para os Açores. Dom Pedro I, então imperador do Brasil, retorna para liderá-los na guerra por dois anos.
Num certo dia, em pleno combate, ele tem uma ideia brilhante: por que não criar um museu que reunisse os bens confiscados pelos absolutistas (aqueles que apoiavam Dom Miguel) e as peças dos conventos (as ordens religiosas foram extintas na época)?
Assim nasce o Museu de Pinturas e Estampas, que mais tarde é transferido para o Palácio das Carrancas, a residência real utilizada pela família quando passava temporadas no Norte do país. Atualmente, é o Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto.
Esta história é partilhada por Ana Mântua, museóloga que trabalha no Soares dos Reis, ao grupo de visitantes do qual eu fazia parte num belo e ameno sábado de inverno. Ana Mântua já é nossa conhecida. Ela está no post # Um dos segredos do Porto está prestes a ser revelado
O nome do Museu é uma homenagem a António Soares dos Reis, um artista da Academia Portuense de Belas Artes que foi o primeiro a receber uma bolsa de estudos em escultura no estrangeiro e posteriormente tornou-se professor na Academia.
Em uma das salas, destacam-se desenhos e pinturas do jovem português Henrique César de Araújo Pousão. Nascido em 1859, neto e bisneto de pintores, Henrique logo demonstra o seu talento e é matriculado aos 13 anos na Academia Portuense de Belas Artes, mantendo ainda aulas particulares. Aos 21 anos, conclui os estudos, colabora com a revista O Ocidente e, no ano seguinte, parte para Paris como bolseiro.
A tuberculose herdada de sua mãe começa a manifestar-se, e com uma bronquite aguda, altera o seu destino para Itália, onde, nas ilhas de Capri e Anacapri, produz algumas das suas melhores pinturas.
Pousão é considerado um dos destaques da pintura portuguesa da segunda metade do século XIX, marcando a sua arte pelos lugares por onde passava. Carregava pequenas tábuas de madeira com pincéis e lápis em sacolas de pano, como conta Mântua, e que depois serviam para a elaboração dos quadros.
O agravamento da doença faz com que regresse a Portugal, em Vila Viçosa, onde morre aos 25 anos. Foi o primeiro e mais inovador pintor português naturalista da sua geração, com influências dos pintores impressionistas.
E, em 1888, enquanto a princesa Isabel, neta de D. Pedro I, assina a Lei Áurea no Brasil, o pai de Henrique Pousão cede o acervo de seu filho à Academia Portuense de Belas Artes, e parte das obras segue para o Museu Nacional de Soares dos Reis.
Ao lado da sala onde me encantei com a história do jovem talento português, está um grupo de jovens sentados no chão. De pé, a professora faz perguntas e dá explicações sobre os diversos estilos de pinceladas e seus resultados. Enquanto algumas meninas respondem interessadas, outros colegas usam os telemóveis.
E há mais arte e história. No piso térreo, salas de trabalho convivem com o jardim com vestígios da história através de peças coletadas e expostas onde foi o antigo velódromo Maria Amélia,
Outros tempos. Mesmos movimentos. Ensino e aprendizado. Só mudam as técnicas e o uso da tecnologia.
1 Comentário
Lena que interessante essa história!! Muito bom!