Já poupaste água e fizeste a tua horta?
Na semana passada, a minha sobrinha-neta mais velha, a Luisa, estava em casa e eu, toda entusiasmada, convidei-a para irmos ver o pôr-do-sol na praia. Eram 6 horas da tarde e ela respondeu tranquilamente: “Tia Lena, só se formos às 9 horas da noite…”
Pois é. Leva algum tempo para nos acostumarmos com o horário de primavera-verão, em que o sol desaparece cada dia mais tarde. Já tinha vivido essa sensação numa viagem de trabalho à Suécia, mas é completamente diferente quando se vive no velho continente. Pode ser apenas uma impressão de uma residente “de primeira viagem”, mas o sol parece cada vez mais quente e as plantas – assim como os seres humanos e os animais – reclamam por mais água.
Este ano, devido à atual seca, o consumo de água exige mais cuidado por parte dos governos e dos cidadãos. Uma das notícias de ontem (25/05) é que Portugal não autoriza mais o cultivo permanente de oliveiras, abacates e frutos vermelhos no Alentejo e no Algarve, de acordo com um artigo do jornalista Carlos Dias no jornal Público.
. Esta medida tomada pelo Ministério da Agricultura e Alimentação estará em vigor enquanto durar o ciclo de seca severa e extrema, apesar de a ministra ter destacado o papel dessas culturas na balança comercial. Ao mesmo tempo, serão incentivadas culturas que consomem menos água. A EDIA, empresa de desenvolvimento e infraestruturas do Alqueva, lançou o programa Alqueva Sustentável para “responder aos desafios enfrentados pelos agricultores da região”.
Alqueva é um projeto multifuncional localizado no Alentejo, no sul do país, de acordo com o site da EDIA. Não diz muito, mas ali está a barragem de Alqueva, construída no rio Guadiana, que lidera um sistema integrado por 69 barragens e reservatórios.
A represa de Alqueva, segundo o site, é a maior reserva estratégica de água da Europa, com capacidade total de 4150 milhões de metros cúbicos. As infraestruturas presentes ali permitem irrigar uma área de 130 mil hectares. E aqui vale uma lição aprendida nestes últimos meses: não se compara áreas nem países, como o Brasil e Portugal – algo que nós emigrantes fazemos com frequência. Cada país tem os seus encantos, problemas e soluções. Afinal, apenas a produção de soja no Brasil, de acordo com informações da Datagro, teve uma área total de semeadura revista para 44,22 milhões de hectares, o que representa um aumento de 4,9% em relação à safra 2021/2022.
Números, discursos e intenções à parte, é importante destacar a preocupação do governo com a agricultura, assim como de organismos, empresas e iniciativas – criado para apoiar os agricultores. Afinal, a agricultura contribuiu muito para o crescimento do país, que atingiu 6,7% em 2022, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística de Portugal.
Deixando os números de lado, é bom dizer que nesta estação
mais quente as pessoas se animam a ter mais vasos de flores em casa, a renovar
os seus vasos de plantas ou a começar pequenas hortas. E há algo facilmente
notado quando se caminha diariamente no bairro: as pessoas aproveitam os
cantinhos das suas casas para cultivar plantas, tomates e até mesmo pequenas
árvores de limão amarelo ou vasos de flores.
Então, animada pelo clima primaveril, fui comprar terra, vasos e sementes na Flor do Norte, uma mega loja presente há 35 anos na freguesia Arcozelo (onde a minha sobrinha e a sua família vivem). A primeira lição aprendida ao fazer a compra: aqui nas lojas de plantas vendem-se plantas. Por isso, se precisares de pás, pequenos rastelos e outros utensílios necessários, é melhor procurar nas grandes lojas chinesas (onde se encontra de tudo um pouco a preços convidativos) ou nos grandes supermercados (onde vendem esses artigos nesta época do ano).
Com a varanda organizada – terra, vasos, sementes, ferramentas – pedi ajuda a Dora e ao Carlinhos, amigos de longa data que têm a Mandrágora Arte Ornamental em Embu das Artes. Eles são especialistas e já me orientavam no Brasil com outros tipos de plantas.
Descubro então, para minha surpresa, que é preciso fazer pequenos buracos distantes três centímetros na floreira para plantar salsa.
Sabias que o alecrim é anti-social – gosta de pouca água e não se dá bem com a pequena salsa. Tudo plantado na primeira floreira, penso que só preciso esperar alguns dias para as plantas germinarem e crescerem – assim como as plantas do meu vizinho debaixo, que tem um belo espaço por morar no rés-do-chão e colhe couves e outras folhas simplesmente enormes.
Aí aprendo outra lição, dada pela minha sobrinha Paola, que vive em Milão há mais de 15 anos: é difícil que as sementes plantadas nas floreiras dêem salsa do mesmo tamanho daquelas que compramos em vasinhos nos supermercados. Não desisto, mas por precaução volto à Flor do Norte e compro tomates e manjericão-de-folha larga, como é conhecido o manjericão, já plantados, e transfiro-os para uma segunda floreira. Afinal, as pequenas salsas podem ficar entusiasmadas com a presença dos pés de tomate e crescerem mais!
Voltando à escassez de água nestes tempos mais secos, percebe-se a consciência dos cidadãos no uso da água. As pessoas não lavam as calçadas – um hábito que eu já considerava desperdício no Brasil. Carros? Levam-nos a serviços que fornecem água e aspirador para que as próprias pessoas possam limpá-los. Como esse não é um hábito que eu pretenda adquirir, descobri um lava-jato automático perto de casa, bem mais barato do que os lava-jatos dos shoppings. E aí ganho mais uma lição: por que pagar um euro a mais pela cera se o trabalho de encerar o carro ficará por minha conta, logo após o carro receber um jato da tal cera? A dica foi dada por um brasileiro que, ao perceber que eu estava tentando entender como a máquina funcionava, veio me ajudar. Pedindo licença por se meter, ele me orientou sobre como usar a máquina e falou sobre o melhor custo-benefício da lavagem de acordo com a tabela de preços. Cinco minutos depois, era a minha vez de orientar um português que chegou para lavar o seu carro, um belo Alfa Romeo.
Por isso, sempre é tempo de poupar água, aprender a usá-la da melhor maneira e cuidar das sementes plantadas para, com satisfação, colher um pouco de manjericão para a salada do almoço ou do jantar – enquanto aguardo os tomates ficarem vermelhinhos.
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