Vista Edifício Lina Bo Bardi e Edifício Pietro Maria Bardi_foto_ Leonardo Finotti
Já visitou algum lugar que o tenha transportado para os dias da sua adolescência? Eu tive essa experiência no MASP – Museu de Arte de São Paulo, o MASP, que está no coração de quem vive na capital paulista ou daqueles que passam pela icónica Avenida Paulista.
O ano era 1972. Tinha recebido a tarefa escolar de realizar uma pesquisa no MASP sobre a Semana de Arte Moderna de 22, movimento artístico disruptivo que completava 50 anos. E lá fui eu, depois de uma pequena pesquisa em livros e enciclopédias (lembre-se… estávamos muito antes da era digital).

O que foi a Semana de 22?
Imagine: um festival de artistas da música, literatura, artes plásticas e dança, com obras expostas e debates para criar uma estética artística mais livre, inovadora e ligada à identidade brasileira, rompendo com o conservadorismo e os padrões europeus dominantes da época. Foi o lançamento das bases do modernismo no Brasil.
Quem esteve presente: o escritor e crítico Mário de Andrade, o escritor Oswald de Andrade, as pintoras Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, o compositor Heitor Villa-Lobos, o poeta Manuel Bandeira, o escritor Carlos Drummond de Andrade, o poeta Vinicius de Moraes, a escritora Cecília Meirelles, entre outros. O encontro ocorreu no Theatro Municipal de São Paulo, de 11 a 18 de fevereiro de 1922.
Consequências: O movimento disruptivo escandalizou a sociedade com as suas novas formas de expressão, como o verso livre, as cores vibrantes nas pinturas e a inclusão de temas do Brasil real, como as questões indígenas, a população negra e a linguagem popular.

Voltemos a 1972. Brasil em ditadura.
Eu tinha acabado de entrar num liceu público (no Brasil, é colégio) cujas salas de arte e biblioteca tinham sido encerradas por ordem do governo. A realização da tarefa escolar com a visita ao MASP despertou um fascínio pelo universo multifacetado das artes e um certo orgulho em ser paulistana (natural da cidade de São Paulo).

Avanço para 2025.
Estou na mesma Avenida Paulista, num sábado movimentado de abril, para revisitar o acervo do museu e conhecer o novo MASP, agora composto pelo Edifício Lina Bo Bardi (o prédio original) e o anexo recém-inaugurado, o Edifício Pietro Maria Bardi, com 14 andares e cinco exposições inéditas. Juntos, formam o agora renomeado MASP. Um verdadeiro presente dos deuses!

Lá fui eu ao Edifício Lina Bo Bardi. Que prazer rever a querida “Pequena Bailarina de 14 anos” (de 1881) de Edgar Degas – a mesma que tanto amei na adolescência e que me fez apaixonar-me pelos escultores europeus. Que emoção olhar, com renovada admiração, os icónicos cavaletes de vidro e betão (no Brasil, concreto), uma ideia brilhante da arquiteta Lina Bo Bardi, ao libertar os quadros das paredes frias. Uma ideia que permite circular entre as obras e viajar entre estilos e artistas.
Um giro para mostrar a bela menina de Degas







Vamos viajar no tempo para conhecer melhor o MASP?
Tudo começa em Itália, onde o italiano Pietro Maria Bardi – historiador, crítico, colecionador e negociante de arte – conhece Lina Bo no final da Segunda Guerra Mundial. Após o casamento, o casal decide emigrar para o Brasil e, com as obras do seu acervo, organiza a exposição Arte Italiana Antiga no Rio de Janeiro. Nos salões da mostra, conhecem o empresário +ssis Chateaubriand, dono do grupo de comunicação Diários Associados, que os convida a montar o Museu de Arte de São Paulo no centro da capital paulista.
Algumas obras do acervo dos Bardi passam a integrar o novo museu. Pietro Maria Bardi assume a direcção do MASP, função que exerce durante 45 anos, até 1992. Já a italiana Lina Bo Bardi viria a tornar-se uma das mais importantes arquitetas do Brasil, onde se naturalizou.
O espaço torna-se insuficiente
Em 1951, realiza-se um desfile da Dior, demonstrando que o MASP seria sempre um espaço disruptivo e ecléctico.

Contudo, passados quase dez anos, os dois andares do edifício dos Diários Associados tornam-se insuficientes. O casal Bardi já tinha interesse no terreno do antigo Belvedere do Trianon, na Avenida Paulista, com uma vista privilegiada sobre o centro da cidade e o parque. Em 1957, após um acordo entre o museu e a câmara municipal (no Brasil, prefeitura) de São Paulo, inicia-se a construção do novo edifício, projectado por Lina Bo Bardi com o maior vão livre da América Latina, com 74 metros de extensão. Com cinco andares, o edifício inclui auditórios e um grande hall cívico no seu subsolo, para ampliar a actuação eclética do museu, com exposições, cursos e manifestações cívicas. A inauguração decorre a 8 de novembro de 1968 com a presença da rainha Isabel II (no Brasil, Elizabeth II).

É nesse vão livre com os seus pórticos em marcante vermelho que ocorrem manifestações pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Ali também acontecem concertos como os do grupo baiano Olodum, no âmbito do projecto Som do meio-dia – uma pausa musical para quem trabalha na região.

A atmosfera disruptiva continua no ar
A mesma emoção sentida em 1972 permanece ao percorrer a exposição do acervo – e há muito mais para ver! Conforme o comunicado de imprensa elaborado pela #Conteúdo Comunicação para a inauguração do Edifício Pietro Maria Bardi, estão patentes cinco exposições de 28 de março a 3 de agosto, divulgadas pela assessoria de comunicação do Museu.
Para conhecer melhor a história do MASP, destaco a exposição Cinco ensaios sobre o MASP — Histórias do MASP, no sexto andar do Edifício Pietro Maria Bardi. Ali, encontram-se 74 obras do acervo em formato de linha cronológica. Através de fotografias, documentos, cartazes, livros, catálogos e publicações, acompanhamos desde a primeira sede do museu até à construção do edifício atual. E entre os documentos, lá estão cartazes e livretos do cinquentenário da Semana de 22!


As outras exposições são:
- Isaac Julien: Lina Bo Bardi – um maravilhoso emaranhado, videoinstalação sobre o legado da arquiteta;
- Artes da África – com mais de 40 obras do século XX, maioritariamente da África Ocidental;

- Geometrias – mais de 50 obras do acervo, incluindo cerca de 20 doações recentes, de artistas das vanguardas construtivas e contemporâneos;

- Renoir – com 12 pinturas e uma escultura de Pierre-Auguste Renoir (1841–1919), abrangendo quase toda a sua carreira. A última exposição deste conjunto foi há 23 anos.


Quem esteve no projeto do novo MASP?
O projeto arquitetônico da reforma e ampliação do novo edifício e de sua conexão subterrânea com o da sede do MASP, é dos arquitetos Júlio Neves e Roberto Neves (Neves Arquitetos) com Martin Corullon e Gustavo Cedroni ( Metro Arquitetos).
O projeto envolveu a demolição parcial da estrutura em concreto existente e a construção de nova estrutura sob a Avenida Paulista por meio de um túnel que permitirá a integração funcional plena do conjunto, tanto técnica como de público.
A construção aumenta a área do museu em mais de 7 mil m². De acordo com o site da Metro Arquitetos, foi colocada uma pele em metal perfurado no Edifício Pietro Maria Bardi que unifica as fachadas e permite o controle de iluminação e temperatura exigido para a exibição de obras de arte. “O projeto emprega as tecnologias mais avançadas disponíveis para os sistemas de climatização, iluminação e segurança de museus. Os materiais utilizados – concreto aparente, aço, vidro e pedra, em conjunto com sistemas industrializados – permitem a configuração de espaços adequados aos padrões museológicos contemporâneos e fazem referência às características do MASP, garantindo a integração arquitetônica do conjunto”, segundo o site.




Uma escola para aprender arte
O Edifício Pietro Maria Bardi inclui um piso inteiramente dedicado às actividades pedagógicas, com salas de aula para ampliar a experiência dos alunos e conectar o ensino teórico à programação cultural do MASP. Além disso, a escola inaugura o eixo educacional Por dentro da exposição, com cursos que permitem ao público aprofundar o conhecimento para além da visita, explorando as obras, os contextos históricos e artísticos das exposições, incluindo as mostras inaugurais.
À saída, com a alma lavada, fui recebida pela chuva miudinha que encerrou a tarde de sábado. Estava tão feliz que me esqueci de recolher o tripé que deixei na recepção… resgatado na semana seguinte pelo amigo Felipe Teruel! Ufa!
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