Caminhadas em meio ao verde na chegada do Outono
O verão chegou e ainda arde na devastação causada pela combinação entre pinheiros, ventos e fagulhas caídas ou atiradas. Mas, como tudo é cíclico, o outono chegou hoje às 13h43 no hemisfério norte, trazendo ares mais amenos. Não estou este mês em Portugal para apreciar a mudança das cores nas folhas e nas árvores, que pouco a ficam um pouco nuas, desprotegidas para o inverno que logo chegará.
No meio do caminho, tinha um Estuário
Mas antes disso, ainda antes do verão, numa das minhas caminhadas exploratórias, cheguei à Reserva Natural Local do Estuário do Douro (RNLED, mas vamos chamar-lhe apenas Estuário, para facilitar), que se encontra na margem sul do rio Douro, no concelho de Vila Nova de Gaia. Para além de conservar uma riqueza significativa em biodiversidade numa área de 62 hectares, o Estuário é um importante local de descanso, alimentação e abrigo para muitas espécies de aves migratórias que se deslocam ao longo da costa atlântica.
Paragem para as aves
Ali, conversei com o Vítor Manuel Martins da Silva, funcionário da Câmara Municipal de Gaia. Ele conta que há quatro anos, a Reserva do Estuário é uma empresa municipal que cuida da reserva e dos espaços verdes como o Parque Biológico onde trabalha há 18 anos (esse parque ainda não conheço!).
Em Gaia, o Estuário marca o encontro entre o final do rio Douro e o mar. A água doce traz elevada carga de nutrientes e de matéria orgânica que gera condições para o desenvolvimento de uma rica cadeia alimentar. Também é onde estão as maternidades das aves!
Vítor detalha que os turistas – cujo número, segundo ele, aumentou muito nos últimos anos – pedem informações e ficam muito surpresos por ser um parque com esse perfil no meio da cidade. Comenta ainda que nos últimos anos tem crescido o número de prédios próximos do local, o que atrapalha a vida das aves. Isso é visível quando caminha-se pelos passadiços do local.
A observação das aves é melhor no início da manhã, entre as seis e as sete horas – um horário um pouco difícil para a minha rotina – e ao final da tarde – aí sim, dá para voltar para observar:
– É quando está tudo mais calminho e elas andam bem mais à vontade.
E lá vêm as gaivotas…outra vez!
Viver em Gaia é acostumar-se com o movimento das gaivotas – assim como os pombos em Lisboa.
Este paraíso desconhecido é uma das paragens de espécies que passam uma parte das suas vidas no rio e outra no mar – como as gaivotas! Mas vamos ser sinceros, elas são lindas, mas nem sempre bem-vindas!
O único ponto negativo é que, como os carros ficam nas ruas, de vez em quando as pessoas são surpreendidas com algumas manchas brancas provenientes de “desabafos intestinais” feitos de forma aérea! Já me precavi e tenho no carro um garrafão de cinco litros de água, um borrifador, luvas de plástico e panos. Já mancharam o meu carro algumas vezes até eu ficar atenta!
O Estuário está integrado na Rede Nacional de Áreas Protegidas, pois contribui de forma relevante para os objetivos europeus de preservação da biodiversidade e para o desenvolvimento local. Ali desejamos dois observatórios acessíveis por passadiço e uma zona de acesso condicionado (ZAC), ou seja, limitados ao trânsito de pessoas, garantindo que as espécies selvagens e livres permaneçam protegidas.
Passear pelos passadiços é uma experiência rica, pois além do seu visual, o silêncio impera. Ali perto, há um sítio com valor destruído, constituído por penedos com algumas gravuras que podem estar associadas à presença viking ou normanda nos séculos IX e X dC
Portanto, se visita a bela Vila Nova de Gaia, dá uma passagem pelo Estuário. Garanto-te: vais gostar!
.
1 Comentário
Como facilmente se faz uma descrição objetiva e informativa com uma pitada de cômico à mistura.