Polo Universitário de Asprela muda a paisagem
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Então, caminhando – que na minha opinião é como se conhece um lugar – cruzo a Praça Nove de Abril, antes chamada de Arca De Água e que foi transformada em jardim público em 1920. Em sua larga alameda há plátanos de grande porte, lago, coreto e uma gruta com amplo terraço que serve de ponto de encontro tanto de jovens quanto de vários sêniores que ali param para longas conversas. O nome Arca De Água refere-se às nascentes de água e respectivos reservatórios, e que, a partir de 1597, abasteceram o burgo de água.
E ali foi palco de uma história pitoresca: Em 6 de fevereiro de 1866, Antero de Quental e Ramalho Ortigão escolheram este jardim para um duelo à espada, por conta da discussão literária conhecida como “Questão Coimbrã”. A discussão, também conhecida como Questão de Bom Senso e Bom Gosto, foi desencadeada em Coimbra por um grupo de jovens intelectuais que reagiam contra a degenerescência romântica e o atraso cultural do país e ocupou folhetos, jornais e folhetins de 1865 a 1866. No folhetim A Literatura de Hoje, Ramalho Ortigão chama Antero de Quental de covarde. No duelo, Antero Quental fere Ramalho Ortigão. Mas fiquem tranquilos, pois nosso caríssimo escritor não morreu na contenda.
Segundo relato de Eduardo Nobre, no livro Duelos & Atentados: “Nenhum deles é um esgrimista de escol, mas Antero acaba por ferir Ramalho, incapacitando-o de continuar e terminando a pendência com honra”. O tempo curou as feridas os duelistas cimentaram uma amizade. A ruptura provocada pela Questão Coimbrã abala as estruturas socioculturais do país, lança as sementes para o debate e a intervenção da que viria a ser conhecida como a Geração de 70 – na época uma geração nova, que atuou para a revolução cultural e literária ultrapassando o romantismo.
Ao caminhar em direção ao metro, vejo casas enormes e antigas, mas bem cuidadas. Nas varandas e janelas, estudantes de diferentes jeitos e, pelas conversas, também de países, estendiam roupas nos varais, ouviam músicas ou simplesmente nada faziam. Achei curioso, mas sem mais informação, segui em frente.
Hora de tomar um café, certo? Entrei na Padeirinha de Paranhos , uma confeitaria com ambiente gostoso com mesinhas e painéis de azulejos nas paredes. Alcida Paula Vidal Gonçalves, que ali trabalha, estava limpando o lustre e parou um pouco para conversar comigo. Os donos da confeitaria são Emília Barros Machado e Adalberto Teixeira Rodrigues. Um dos painéis conta o processo do trigo.
Ao caminhar, percebe-se que o bairro teve gradativas mudanças, especialmente nos últimos 40 anos: “Era um bairro rural, tinha quintas e plantações”, comenta Alcida. O movimento da padaria reflete-se por conta dos ciclos de estudos das faculdades.
Paranhos abriga o Polo Universitário de Asprela, o Polo 2 da Universidade do Porto, criado no Estado Novo em 1933 com a construção de dois grandes hospitais públicos para o exercício da medicina universitária. O grande campus do Polo Universitário foi concluído no ano passado e está intensificando a chegada de novos empreendimentos imobiliários.
Brasil e Paranhos – A história de Paranhos cruza-se com a do Brasil, como tantas outras. Um dos fatores que teve um peso bastante considerável para o crescimento e desenvolvimento desse local foi o retorno de muitos portugueses que regressaram, construindo casas, lojas e fábricas. Em 1883, Paranhos ganha um hospital para doentes mentais doado pelo Conde de Ferreira.
Chego na estação de metrô Polo Universitário e vou para Porto, onde faço uma parada para outro café e água e da Estação São Bento vou de trem para Coimbrões, caminho um quilômetro e chego em casa. Foi uma bela aventura, repetida quando busquei o carro uma semana depois.
5 Comentários
Cara Lena Miessva : Apreciei o seu texto acerca de “Paranhos”… Na certeza porém haveria muitas correções a efetuar, nomeadamente: “A dona da Padeirinha de Paranhos ; conforme certidão comercial
da empresa, existem só dois sócios gerentes, EMILIA BARROS MACHADO e ADALBERTO TEIXEIRA RODRIGUES, essa mulher que referenciou como “dona” é uma empregada de balcão , naturalidade da mesma também não corresponde á realidade … Quanto á história dos azulejos também não corresponde á verdade. Foram pintados á mão por um artista de V. N. Gaia, em que retrata unicamente o processo relativo ao trigo e nada tem a haver com “Paranhos “.
Se eventualmente quiser saber mais acerca da Padaria desde a construção até aos dias de hoje, pode contactar-me, pois terei todo gosto em lhe contar assim como sendo residente em Paranhos há 53 anos.
Cordiais cumprimentos,
FF.
( ex-gerente da Padeirinha de Paranhos no ano de 2001)
Obrigada pelas correções. É muito bom ver que o blog está sendo lido por residentes. Realizei as alterações solicitadas. Futuramente, pretendo fazer mais um post sobre Paranhos, para falar sobre o bairro e terei muita satisfação em contactar-lhe. Cordialmente
Pois está um primor esse texto! Passeio junto e posso dizer que me alegrei ao ler sobre Antero de Quental . Você está realmente fazendo conhecer Portugal! Parabens!
Bom saber com você!!
Conhecer as redondezas em velho continente é descobrir história!