Acolhedora por natureza

Encante-se com Amarante, um paraíso perto do Porto

Passear pelo norte de Portugal num domingo de sol é um presente do Universo para o Dia da Mãe. E se ela já não está presente, transformamos a nossa alegria num presente que chegará onde quer que ela esteja.

Decidimos celebrar o brasileiro Dia das Mães  (em Portugal, o Dia da Mãe é no primeiro domingo de maio) – numa viagem a Amarante – eu, a minha irmã Vera e a minha sobrinha e afilhada Anna com as suas filhas Catarina e Marina e o marido Lauro – a Luísa, a filha mais velha, estava a trabalhar na Livraria Lello (dica: tem de visitar quando vier ao Porto!).

 A viagem é curta e convida a apreciar o verde primaveril – cerca de 45 minutos numa estrada excelente – como são as autoestradas por aqui. E chegamos à charmosa e acolhedora Amarante, cidade da rota românica atravessada pelo Rio Tâmega, nas serras do Marão e da Aboboreira.

 

Veja como a cidade te surpreende

Depois de um saboroso almoço, fomos caminhar pela cidade. A Igreja de São Gonçalo é imponente, mas se subir a pequena colina de pedras ao lado (haja fôlego!) chegará a uma capela singela com canto gregoriano de fundo musical.

E, claro, não poderia faltar a caminhada às margens do rio Tâmega, num passeio cujo nome é uma homenagem ao fotógrafo Eduardo Teixeira Pinto. Este amarantino, nascido em 1933, herdou do pai, também fotógrafo, o prazer de fotografar. Com 17 anos iniciou a sua carreira e aos 20 já participava em vários salões de fotografia em todo o mundo, incluindo o Brasil. A sua obra, que destaca a natureza e a figura humana em harmonia, foi reconhecida com vários prémios no estrangeiro e em Portugal, como o Grande Prémio de Camões de 1960. Falecido aos 76 anos, era avesso a homenagens e distinções, e parece que o nome do passeio às margens do belo rio Tâmega é mais do que justo. Natureza e ser humano em harmonia.

Eduardo e a sua foto Sensibilidades (crédito Correio do Povo)

Traz-me um sãogonçalinho!

Entretanto, é a figura de São Gonçalo que torna Amarante mais conhecida. Venerado pelo povo, o frade dominicano nascido em Guimarães chegou à região com intuito evangelizador e rapidamente se deixou seduzir pela terra. Nascido em 1187, viveu 75 anos – o que era atípico para a época – e foi sagrado beato pela Igreja Católica.

A cidade deve muito ao pregador, como a antiga ponte medieval, reconstruída sobre o rio Tâmega pelo próprio São Gonçalo. Diz a lenda popular que ao pregador caberia a missão de arranjar um noivo para as mulheres mais velhas, criando um culto à fertilidade. Assim, os devotos passaram a honrar São Gonçalo com símbolos fálicos. Os genuínos são vendidos em “tendas” ou barracas montadas em espaços públicos da cidade, durante todo o ano, mas com maior oferta nas festas em honra do santo, a 10 de janeiro e no primeiro fim de semana de junho.

 

Um passeio pela cidade que é muito bonito!

E, como não podia deixar de ser – tal como muitas cidades portuguesas, Amarante também resistiu às invasões das tropas de Napoleão Bonaparte durante 14 dias, impedindo que atravessassem a ponte que une as margens do rio Tâmega. A sua arquitetura é maioritariamente de estilo românico com colunatas, arcos, tímpanos e colunas construídos em áreas desertas ou em encruzilhadas na periferia de áreas habitadas, servindo como locais de encontro, alojamento e posições defensivas. Desde 2010, Amarante integra o projeto Rota do Românico.

Aliás, devido ao Tâmega, a cidade viveu várias cheias ao longo da sua história. Recentemente, recebeu um aporte do Fundo de Coesão da União Europeia de cerca de 2 milhões de euros para intervenções estruturais ao longo do rio.

 

No passado, só restava marcar as cheias. No presente, a cidade estrutura-se para o futuro

E se estamos a falar de figuras ilustres, não é possível deixar de citar Agustina Bessa-Luís, escritora nascida ali em 1922. O seu romance “A Sibila” lançado em 1954 coloca-a entre os maiores da literatura contemporânea e torna-se conhecida não só como romancista, mas também como autora de peças de teatro, roteiros para cinema, biografias, ensaios e livros infantis. Vencedora do Prémio Camões em 2004, foi diretora do jornal O Primeiro de Janeiro, do Porto, diretora do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, e teve os seus romances adaptados para as telas pelo diretor Manoel de Oliveira. Por motivos de saúde, retirou-se da vida pública e faleceu aos 95 anos no Porto. “Há pouca gente que perceba que escrever é uma espécie de danação em que às vezes se tem o encontro com Deus”, dizia e ao falar de si própria, comentava que “era muito conhecida, mas pouco lida”. É uma gota no oceano de leitores, mas estou a ler e a encantar-me com o livro “Fanny Owen”, dessa sagaz escritora.

 

Um marco nas artes portuguesas, vale a pena ler Agustina Bessa-Luís

O município abre-se para investimentos

A região do Tâmega e Sousa, da qual faz parte Amarante, é prioritária na atribuição de fundos comunitários Portugal2020 de apoio ao investimento empresarial que inclui zonas de baixa densidade demográfica. O município oferece condições fiscais atrativas e competitivas para empresas que ali se fixem e criem postos de trabalho. Aliás, o recrutamento de jovens profissionais não será dificuldade pois Amarante localiza-se no centro de um triângulo de pesquisas capitaneado por instituições de ensino superior como a Universidade do Porto, Universidade do Minho e Politécnico do Porto. Para isso, há a InvestAmarante, estrutura especializada para ajudar os investidores. E há ainda uma incubadora de novas empresas por meio do Instituto Empresarial do Tâmega.

Isso é Portugal – o novo convive todos os dias com as suas raízes. Amarante revigora as energias de quem ali chega para visitá-la e passar horas ou dias agradáveis. Então, quando vier para o Norte, já sabe: passe por ali. Quem sabe não se anima a morar neste pequeno paraíso?

Lena Miessva

Jornalista & Escritora & Blogger

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


Posts Relacionados:

  • All Post
  • Artes
  • Beleza
  • Ciência
  • Curiosidade
  • Igreja
  • Livros
  • Meio ambiente
  • Música
  • Não categorizado
  • Passeios
  • Porto
  • Portugal
  • Viagens
    •   Back
    • Lisboa
    • Ponte de Lima

Sobre mim

Olá, Sou Lena Miessva

Após percorrer várias estradas da vida no Brasil, Lena Miessva inicia um novo caminho em Portugal. Aprendizados nas relações humanas, na comunicação interpessoal e aprimoramento da escrita são seus focos principais nesses tempos de mudanças globais, locais e pessoais.

Todos os Posts

Posts mais vistos

  • All Post
  • Artes
  • Beleza
  • Ciência
  • Curiosidade
  • Igreja
  • Livros
  • Meio ambiente
  • Música
  • Não categorizado
  • Passeios
  • Porto
  • Portugal
  • Viagens
    •   Back
    • Lisboa
    • Ponte de Lima

Miessva Communication

Instagram

Categorias

Tags

Edit Template