Destinos conectados por minutos
Comboio. Sítio onde as pessoas se encontram para ir e voltar do trabalho, ir para a escola, visitar amigos ou parentes, ir à praia, ir à serra. Para quem mora em Vila Nova de Gaia, é também um meio de ver o belo Douro e a cidade do Porto, além da chegada na deslumbrante Estação de São Bento com os seus azulejos a contar histórias.
Parece simples? Nem tanto. Na semana passada, na volta da sessão de fisioterapia que faço no Hospital Trofa Gaia, no bairro ao lado, resolvi voltar de comboio para casa. E aí começou a aventura!
É preciso esclarecer que Portugal está a implementar um grande investimento na rede ferroviária. Até 2030, 10.510 milhões de euros serão aplicados na rede ferroviária. São 16 projetos que envolvem novas linhas de metrô e de comboio e a modernização de muitas já existentes. Portanto, pode imaginar que muitas estações estão em obras, além de ser necessário entender qual comboio é direto, sem paragens, e qual faz paragens nas estações.
Assim, depois de apanhar o comboio, descer na estação seguinte e retornar para a estação de Vila Nova de Gaia, achei melhor perguntar ao bilheteiro. O diálogo não poderia ser mais surreal:
– Boa tarde, estou um pouco perdida…
– Boa tarde, a senhora está em Vila Nova de Gaia!
A vontade foi dizer que isso eu já tinha entendido, mas queria era apanhar o comboio correto. Então, fui tentar entender as tabelas afixadas nos murais com os horários e destinos dos comboios. Podem ser até compreensíveis para os habitantes locais ou para quem reside nestas terras há algum tempo, mas para mim pareciam hieróglifos egípcios!
A sobrinha Anna veio em meu socorro depois de eu reportar no nosso grupo de WhatsApp (santo WhatsApp!) que não estava a ter muito sucesso a apanhar o comboio para casa. Ah, bom! Tem de esperar o segundo comboio que vai para Ovar (que nunca tinha ouvido falar), pois ele faz paragem em todas as estações. Mas não foi desta vez que acertei.
Desembarquei na outra estação, pois o comboio não fez paragem em Coimbrões, perto de casa. Aí veio a pergunta para a sobrinha de quem realmente não anda de comboio:
– Será que é preciso pressionar algum botão para o comboio parar na estação?
Resposta imediata da sobrinha:
– Não é preciso pressionar nenhum botão, tia Lena. Ou para ou não para!
Finalmente, cheguei ao bairro e parei para saborear um merecido sanduíche no Burger King.
Dias depois, lá fomos nós – eu, minha irmã Vera, Luisa e Catarina para o Porto, saindo da estação de Miramar. A vista na viagem é incrível numa tarde ensolarada de agosto. Após um passeio, um gelado e algumas compras (ninguém é de ferro!), voltamos e estávamos certas de que tínhamos apanhado o comboio correto, depois de perguntar, compreender os horários e as plataformas, relaxamos… Até que uma senhora que estava no comboio e ouviu-nos comentar que iríamos descer em Coimbrões disse com toda a calma do mundo:
– Se querem parar em Coimbrões, precisam descer na estação agora e apanhar o comboio para Aveiro. Saímos as quatro a correr!
Realmente, apanhar o comboio é uma aventura!”