Conheça Ponte de Lima entre caminhadas e histórias milenares no Norte de Portugal

19.ª edição do Festival Internacional de Jardins decorre até outubro

Uma das vantagens em viver em Portugal é aproveitar as oportunidades para conhecer novos lugares e caminhar por cidades com histórias milenares, muitas delas com a história do Império Romano a cruzar esquinas e monumentos.

No primeiro domingo de julho fui conhecer Ponte Lima com amigos da organização InterNations (presente em 420 cidades no mundo para conectar expatriados e residentes). O grupo foi integrado por 30 pessoas, capitaneado por Rui Pedro Silva e Lavinia Trabattoni, embaixadores da ONG no Porto. Chegamos todos bem animados para a caminhada em trilhas pelos arredores da cidade.

Animação no início das trilhas
Alguns trechos foram perto da estrada

Ponte de Lima está localizada na sub-região do Alto Minho, que pertence ao distrito de Viana do Castelo, no Norte do país. Tem cerca de 320 km² subdivididos em 39 freguesias, com uma população estimada de 41.200 habitantes. A sua origem remonta ao ano de 1125, quando a condessa D. Teresa de Leão outorgou a carta de foral (documento real que concedia foro jurídico próprio aos habitantes medievais de uma povoação europeia e, em Portugal, a qualquer nova localidade fundada no império)

A vila passou a chamar-se Terra de Ponte. No século XIV, o rei D. Pedro I mandou muralhar a cidade devido à sua posição geoestratégica. Uma dica para brasileiros: não confunda com D. Pedro I do Brasil, que em Portugal assumiu como D. Pedro IV. Das nove torres da época, ainda restam duas, além de vários vestígios das restantes. Até o final da Idade Média, a ponte era a única passagem segura sobre o rio Lima em toda a sua extensão.

Roteiros, guias e mapas, muitos deles antigos, descrevem essa ponte como uma passagem para milhares de peregrinos que se dirigiram a Santiago de Compostela. Até hoje, os peregrinos a  atravessam com o mesmo propósito.

E lá fomos nós, animados, num domingo em que o sol foi generoso, pois não apareceu de forma implacável, permitindo passear com tranquilidade. A primeira paragem foi no Centro de Interpretação Ambiental. Ali, existe um herbário científico e pedagógico de áreas protegidas – como lagoas de Bertiandos e São Pedro de Arcos. Mesinhas e cadeirinhas para as crianças contrastam com mapas e fotos de espécies.

Tudo muito bem arrumadinho para os visitantes

Pelo caminho, era possível admirar as quintas, as suas plantações e, em alguns casos, vacas bem gordinhas, além dos jardins das casas. Enquanto caminhávamos, o mais comum nas conversas era a troca de informações sobre a vida em diversos países.

Nos meus passeios, fico admirada com os mapas detalhados em totens nas cidades ou até mesmo nas freguesias (bairros). Embora existam vários aplicativos para localização, nada se compara a ver um mapa em detalhes para entender onde se está e para onde se vai. E assim seguimos por mais alguns quilómetros, até à cidade de Ponte de Lima.

Tudo muito bem explicado. Até GPS tem inveja!

Um cavaleiro romano bem charmoso

No ano 135 aC, as tropas romanas, comandadas por Décio Júnio Bruto, alcançaram a margem esquerda do rio Lima. A paisagem, a tranquilidade e a pureza das águas levaram os soldados a acreditar que estavam diante do histórico rio Lethes, que, segundo a lenda, apagava todas as lembranças da memória de quem o atravessasse. Naturalmente, recusaram-se a atravessá-lo. Então, o comandante encontrou um lugar seguro para a travessia e, montado no seu cavalo, atravessou sem perigo, levando consigo o padrão da Legião. Ao chegar à outra margem, chamou cada soldado pelo nome, provando que aquele não era o Rio do Esquecimento. Convencidos, os soldados atravessaram as águas do Lima e seguiram em marcha rumo à glória. O comandante, também conhecido como Décimo Júnio Bruto, passou à História com o cognome de “Galaico”, por ter sido o conquistador da região que hoje é a Galiza.

Foto obrigatória ao lado do comandante Décimo Júnio Bruto

Passeio entre jardins de vários países

Ao chegarmos à cidade, houve um tempo livre para que cada um encontrasse sua opção para o almoço. Em seguida, visitamos a 19ª edição do Festival Internacional de Jardins, com o tema “O Imaginário na Arte dos Jardins”.

A exposição, que apresenta 11 jardins criados por autores de vários países, teve início a 31 de maio e estender-se-á até 31 de outubro deste ano. Está situada numa área de cerca de 2,5 hectares que inclui, além dos canteiros, zonas de piscinas, um bar, áreas de lazer e estacionamento. Está em uma bela edição da revista Jardins (se gosta de dicas de jardinagem e saúde, vale conhecer a plataforma)

Edição 243, de Julho

O Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima foi fundado em 2005 e foi distinguido com o International Garden Tourism Awards  em 2013 e pelo Europe for Festivals, Festivals for Europe em 2017.

Na entrada de cada um dos jardins, há uma placa com a descrição, os autores e os patrocinadores, além de um QRCode que remete ao site com a informação do evento. 

Entre os jardins expostos, o que mais gostei foi o sonho imaginário de uma infância asiática – uma fábula contada por um grupo de alunos e professores da universidade de Recursos Naturais e Ciências da Vida, de Viena (Áustria). A instalação com flores metálicas em roxo foi inspirada em uma cerejeira.

Mergulho em um sonho asiático

O Brasil foi representado por uma instalação arquitetônica denominada “Jardim Intenção Paradoxal” – com opção para dois caminhos. E aqui vai meu comentário: por que será que não estou surpresa com essa leitura arquitetônica do momento atual do meu país?

Brasil e seus caminhos

E chegámos ao jardim da Dinamarca, onde, no meio de um jardim com a sua bandeira, há uma série de esferas com características da vida no país nórdico. Foi quando Ludovina Barreiros, uma portuguesa animada do grupo, que formava um trio comigo e com a espanhola Julia Alongo, fez o seu comentário, bem espontâneo como ela é:

– Ah, este é da Dinamarca… Por isso é que está tão certinho!

Para entender um pouco o país, há ainda uma mostra de como cuidam do descarte de lixos (e eu sentia-me o máximo da separação com três divisões em casa!)

Entre vários elementos, o espaço menciona o conceito dinamarquês denominado ‘hygge’ – um estado em que a pessoa, relaxada e num ambiente calmo, desfruta da companhia de família, vizinhos e amigos, dentro da sua casa. No clima frio nórdico, o ‘hygge’ ocorre numa cadeira confortável, com uma mesa cheia de boa comida, vinho, café e bolos, tudo numa sala de estar com aquecimento central ou outra fonte de calor funcional. E vai além, explicando que a conversa é descontraída, mas não excessivamente alegre ou barulhenta, para que todos se sintam bem, com uma sensação de cuidado pessoal e aceitação.

Bom, como não estávamos na Dinamarca, as nossas conversas não eram tão introspectivas. No entanto, algumas traziam sabores de ‘dar água na boca’, como a explicação de pratos culinários feitos em Angola, dada numa conversa animada que tive com uma das participantes sobre as diferenças e semelhanças entre os nossos países e as suas histórias.

Tudo muito organizado e explicado na Diinamarca
tudo bem separado. Na Dinamarca!

Depois de visitarmos os jardins, ainda vimos a “9ª edição do Festival de Jardins das Escolinhas de Ponte de Lima”, que apresenta 12 jardins, e passeámos por uma bela alameda. E a pose para a foto do grupo!

Um grupo muito animado!

Após a visita, caminhámos até ao ponto onde deixámos os veículos – ou seja, ao todo foram 15 quilómetros naquele domingo! O regresso de carro, por mais uma hora, serviu para relaxar e conversar mais um bocadinho.

Enfim, um domingo bem aproveitado – algo que já se tornou rotina na minha vida em terras lusas! Por isso, aguardem os próximos passeios e as minhas impressões de Portugal – e de outras paragens – em futuros posts!

 

Pronta para voar para outros passeios

Lena Miessva

Jornalista & Escritora & Blogger

4 Comentários

  • Cascão

    se eu bobear, a Rose me leva pra viver em Ponte de Lima, ela é simplesmente apaixonada por esse sítio.

  • Vera Lúcia Vieira

    Parabéns, Lena, pela rica narrativa e a qualidade das imagens! Um incentivo a passear e a viajar a essa terrinha tão amada por nós, brasileiros, sobretudo quando se descende de portugueses como eu.

  • Rosely Acerbi

    Seu relato me leva junto. E dá impulso na meta de melhor performance física possível. Sou grata ao Universo por ter você como irmã.

  • Rose de Almeida

    Adorei o passeio contigo!
    Amo Ponte de Lima, penso que já lá vivi em vidas passadas. E tantas vezes atravessei a ponte e banhei-me no rio, sem me esquecer de sua beleza.

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Olá, Sou Lena Miessva

Após percorrer várias estradas da vida no Brasil, Lena Miessva inicia um novo caminho em Portugal. Aprendizados nas relações humanas, na comunicação interpessoal e aprimoramento da escrita são seus focos principais nesses tempos de mudanças globais, locais e pessoais.

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