A tarde de 20 de março de 2023 estava quente no Porto, anunciando a chegada da primavera no hemisfério norte. Era o primeiro dia a caminhar sozinha nas ruas desta cidade que tem encantado turistas. A rua Santa Catarina recebe de braços abertos alemães, japoneses, holandeses, argentinos, brasileiros, entre muitos outros que por ali circulam. Alguns caminham sorrindo e olhando um papel amarelado como se fosse um velho jornal. Então, com o calor, nada como um delicioso gelado. Andando devagar para saborear o gelado de pistácio, vejo duas jovens com chapéus coco. Enquanto uma tira fotografias, a outra distribui os tais papeis amarelados. Perante a pergunta sobre o custo do trabalho, a resposta era sempre a mesma. Aquilo era uma doação e as pessoas colocavam ali o que podiam para as duas ucranianas.
Darya Yeremenko – a jovem que distribuía o papel amarelado A4 – está no Porto há pouco mais de um mês, já tendo passado por outras cidades de Portugal onde está há um ano, e por outros países europeus – depois de ter saído da Ucrânia onde ainda reside a sua mãe. Com olhos verdes e um sorriso sincero, explica que ainda fala pouco português e entende melhor inglês. Descontraída, enfatiza que o Porto é uma cidade cativante, diferente de Lisboa e das outras por onde passou. Ali, sentiu-se como se estivesse em casa.
Enquanto Darya conversa comigo, Cristina Kopii cativa as pessoas, fotografando-as rapidamente com uma câmara artesanal que lembra uma antiga Linhof 4×5 e que tem em si uma câmara digital. Logo em seguida, Darya retira o papel diagramado como uma antiga edição do Diário do Porto – e que traz a foto da pessoa fotografada abaixo do título “O Porto recebeu uma visita muito especial”. O texto padrão para todas as impressões conta sobre a cidade do Porto, a produção do seu famoso vinho e informa alguns locais que valem a pena visitar, como a Sé Catedral ou a Torre dos Clérigos.
A iniciativa faz parte do projeto Old Press, cuja comunidade no Instagram denomina-se como o primeiro jornal de rua do mundo. Pode até não ser, mas que as jovens ucranianas trazem charme para a rua Santa Catarina, ah, isso é verdade!